terça-feira , 30 abril 2024
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Elon Musk versus Brasil

Recentemente, emergiu uma controvérsia de proporções internacionais tendo como personagens principais, Elon Musk (dono da plataforma de redes sociais X, antigo Twitter) e, do outro, o poder judiciário brasileiro. Em representação da justiça brasileira, observamos o juiz do Supremo Tribunal Federal do Brasil Alexandre de Moraes a inserir Musk numa investigação sobre desinformação, dando início a outros eventos.

O embate iniciou-se quando Musk lançou publicamente uma campanha de desinformação, questionando as ações daquele tribunal superior brasileiro. As suas declarações – em tom de provocação – geraram uma resposta da justiça brasileira que abriu uma outra investigação contra o bilionário, desta feita, por alegada obstrução à justiça.

No contra-ataque, Musk utilizou as suas plataformas sociais para chamar de “censura agressiva” a postura daquele tribunal superior e anunciou que a sua empresa de redes sociais X não seguirá as diretrizes judiciais brasileiras no que diz respeito ao bloqueio de determinadas contas associadas a atos antidemocráticos e de fake news.

No Brasil, a plateia mais próxima deste embate é representada por grupos de extrema-direita que acusam o juiz Alexandre Moraes (Juiz do supremo Tribunal Federal, órgão máximo da justiça brasileira) de reprimir a liberdade de expressão e de se envolver em perseguição política, enquanto os defensores da postura daquele juiz argumentam que, as decisões deste juiz e do Tribunal, são fundamentadas legalmente, além de necessárias para combater a disseminação de notícias falsas e ameaças à democracia.

Apesar de estar a aparentar ser um “defensor da liberdade de expressão”, a postura desafiadora de Musk em relação às ordens judiciais brasileiras levanta questões sobre quais serão os reais motivos que possam estar a motivar estas abordagens: a gestão dos seus interesses económicos no Brasil.

Segundo revelam vários órgãos de comunicação, os recentes embates de Musk com o sistema judicial brasileiro estão intrinsecamente ligados aos seus interesses comerciais em setores chave da economia brasileira, como a mineração e a tecnologia.

Starlink
A Starlink (empresa do universo de Elon Musk) chegou ao Brasil com a promessa de fornecer internet a 19 mil escolas em regiões remotas, como a Amazónia. Contudo, essa promessa não foi cumprida, gerando críticas e questionamentos sobre a real conduta da empresa. Por outro lado, a atividade desta rede de comunicações ficou relacionada com o uso por parte de garimpeiros [atividade mineradora de cunho artesanal] ilegais na Terra Indígena Yanomami, na selva amazónica brasileira. Os envolvidos estavam diretamente ligados à cadeia ilegal de comercialização de minérios na região. Também em 2022, veio a publico que o então governo Bolsonaro interferiu na agência estatal responsável por regular o setor brasileiro de telecomunicações (Anatel) para acelerar a autorização da operação dos satélites da Starlink naquele território brasileiro.

Lítio
Nos últimos anos o Brasil emergiu como uma promessa na produção de lítio, um metal essencial para a fabricação de baterias, especialmente para veículos elétricos. Essa evolução no interesse pelo Brasil está relacionada com as recentes descobertas daquele metal no norte do Estado de Minas Gerais, tendo três empresas assumido a exploração do minério na região: a Companhia Brasileira de Lítio, a canadense Sigma e a AMG Mineração.

A chinesa BYD – principal rival da Tesla na produção de carros elétricos, que conta com vendas significativas e uma ascensão rápida no cenário global de veículos elétricos – tem estado a ampliar os seus investimentos no Brasil, fazendo com que a competição pelo domínio do mercado de veículos elétricos fique ainda mais acirrada, ao ponto de também se mostrar muito interessada em adquirir a Sigma Lithium, em concorrência aberta a Elon Musk.

Politica
A influência política e econômica do bilionário também parece ter ramificações significativas nas próximas eleições presidenciais norte americanas, mostrando uma oposição à candidatura de Biden. A fazer fé na imprensa americana, essa “oposição” ficou vincada quando Biden revelou planos de começar a cobrar impostos a empresas que utilizem o espaço aéreo americano para lançamentos de foguetes, como faz a SpaceX (mais outra empresa do universo de Elon Musk). Segundo a imprensa norte americana, o dinheiro resultante daqueles impostos seria usado para financiar o trabalho dos controladores de tráfego aéreo americano.

Diante destes desenvolvimentos, ao contrário do que é aparente, uma análise mais atenta revela uma postura estratégia de Elon Musk longe do “defensor da liberdade de expressão” na disputa pelo controle da produção de lítio no Brasil.

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