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25 de Abril: A Música como Resistência e Esperança

No coração da história, o 25 de abril de 1974 brilha como um marco inesquecível. Esta data épica assinalou o fim de décadas de uma ditadura sufocante que lançou a sua sombra sobre territórios como Angola, Cabo Verde, Damão, Diu, Goa, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

A opressão ditatorial – que se estendeu de 1926 a 1974 – deixou cicatrizes profundas na memória coletiva. Um dos desafios mais agudos enfrentados pelas populações sob o jugo do regime salazarista foram a estagnação econômica e a desigualdade social arraigada.

Sob a batuta de Salazar, a economia foi dominada por um protecionismo feroz e uma exploração desenfreada das colônias ultramarinas, deixando para trás um rastro de desigualdade, especialmente entre as áreas urbanas e rurais.

A falta de oportunidades lançou muitos jovens à emigração em massa, seja fugindo do serviço militar obrigatório, ou procurando melhores condições de vida além-fronteiras.

A censura e a repressão política abafavam qualquer dissidência, enquanto as condições socioeconômicas precárias alimentaram um sentimento generalizado de descontentamento.

No campo da educação, o regime impunha uma doutrinação rigorosa, moldando a juventude segundo os ditames do nacionalismo, conservadorismo e catolicismo.

Apesar da censura sufocante, a música emergiu como uma poderosa forma de resistência. Artistas como José Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho usavam as suas melodias para denunciar a opressão, expressar solidariedade e inspirar esperança.

Canções como “Grândola, Vila Morena“, de Zeca Afonso, tornaram-se hinos, transmitindo corajosamente mensagens de liberdade. Além desta, outras músicas ecoavam nas ruas, preparando silenciosamente o terreno para a mudança. Eis algumas delas:

Balada do Outono, de Zeca Afonso
Despertar, de Carlos Paredes
E depois do adeus, de Paulo de Carvalho
Eu vim de longe, eu vou para longe, de José Mário Branco
Menina dos olhos tristes, de Manuel Freire
Menino do Bairro Negro, de Zeca Afonso
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de José Mário Branco
Os Índios da meia praia, de Zeca Afonso
Os Vampiros, de Zeca Afonso
Pedra Filosofal, de Manuel Freire
Porque, de Francisco Fanhais
Que força é essa, de Sérgio Godinho

Tanto Mar, de Chico Buarque
Traz outro amigo também, de Zeca Afonso
Trova do Vento que Passa, de Adriano Correia de Oliveira
Uns vão bem e outros mal, Fausto Bordalo Dias

A música não apenas ofereceu um meio de escape e expressão, mas também desafiou abertamente as injustiças e os abusos do regime, preparando o caminho para a queda do jugo ditatorial. As melodias que ecoaram naquela época tornaram-se testemunhos eternos do poder da música na luta pela liberdade e justiça.

A Revolução dos Cravos é, assim, um monumento à resiliência dos povos lusófonos e à capacidade transformadora da arte em tempos sombrios.

Divagações de António Cunha

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